A primeira assembleia do condomínio a gente nunca esquece. É um lugar
onde ninguém quer permanecer, ao mesmo tempo em que todos querem dar sua
opinião nas pautas ‘’essenciais’’. As aspas vêm porque os assuntos que geram
balburdia e bafafá são, por incrível que pareça, os mais hipócritas e
mesquinhos possíveis.
Como era estreante, resolvi sentar no fundo para acompanhar a coisa de
longe. Várias pautas bestas sendo aprovadas como: padrão da cor da lâmpada nos
corredores, tempo de conversa com o porteiro na entrada, dentre outras menos ou
mais inúteis.
Até que enfim, um tema que deixou todos atônitos. Não! Não me refiro ao
barulho de uma festa no outro quarteirão, falta de policiamento na porta ou a
situação dos moradores de rua que vivem a deriva pelo bairro. O assunto que
mexeu as estruturas da classe média mais hipócrita desse país foi – rufem os
tambores! - a VARANDA!
O que deixava os moradores mais preocupados eram as varandas. De novo, o
problema não é vazamento, vizinho jogando coisa no outro ou assuntos do gênero.
O embate era puro e simplesmente estético. Mais especificamente da proibição de
colocar varais na sacada por causa do quão feio o prédio ficaria.
Para acabar com minha paciência e fechar com chave de ouro a epopéia
desastrosa da classe média combativa pelo design paulistano veio a fala
brilhante da sindica: ’’Afinal, nos não somos o Singapura’’.
Todos urravam e batiam palmas como se aquela fosse a declaração de um
político em seus melhores tempos. Eu
fiquei com vergonha por compartilhar um ambiente daqueles.
Daí vem a pergunta: Você não ficou feliz por ser uma decisão
democrática? Não fica parecendo o Singapura mesmo?
Em primeiro lugar, respondo o segundo tópico com outra pergunta: Que
problema tem parecer o Singapura? Não sei vocês, mas eu acho genial aquele
monte de varais, conflitando com toalhas e peças de roupas de todos os
moradores. Aquilo traz um ar próprio para cada pedacinho do prédio,
demonstrando uma harmonização onde cada um respeita o que o outro é. Lindas
camisas do São Paulo, Corinthians, Palmeiras e Santos, se contrastando em
apartamentos vizinhos. Viva a diferença!
Fico muito feliz pela decisão democrática. O que me deixa triste é ver
que em um estado que se diz o mais rico, culto e próspero do país, tenha de
conviver com cabeças tão minúsculas que se preocupam mais com a aparência dos apartamentos
na visão dos outros do que na deles própria. Para eles, compensa mais ter uma
sacada cheia de flores com placas mostrando que aquele é um lar feliz do que
aquele lar ser, nas suas entranhas, realmente feliz.
No momento, eu prefiro colocar um cacto do lado de fora e rosas do lado
de dentro.
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