#O
outro lado da fama
“Foi sua primeira overdose quase
mortal. E havia ocorrido no mesmo dia que ele se tornou um astro’’.
(Mais pesado do que o céu. Uma biografia de Kurt Cobain - Editora Globo).
‘’12 de Janeiro de 1992. O
quarto em si parecia ter sido engolido por uma tempestade: esparramados pelo
chão, com a desordem de um bazar de caridade de um cego, montes de roupas,
camisas e sapatos. Próximos às portas duplas da suíte, uma meia dúzia de
bandejas cobertas com os restos de vários dias de refeição de serviço de
quarto. Bolinhos semicomidos e fatias rançosas de queijo cobriam o tampo das
bandejas e um punhado de moscas das frutas pairava sobre a alface murcha. Não
era a situação típica de um quarto de hotel quatro estrelas-era conseqüência do
aviso que alguém dera ás arrumadeiras para ficarem longe do quarto. Eles haviam
alterado a placa ‘’Não Perturbe’’ para ‘’Nem Pense em perturbar! Estamos
transando!”.
Naquela noite específica, enquanto Courtney dormia, Kurt havia descuidadamente -
ou intencionalmente - usado mais heroína do que era seguro. A overdose fez sua
pele ficar com um tom verde, aquoso, bloqueou sua respiração e tornou seus
músculos tão rígidos quanto um cabo coaxial.
(Mais pesado do que o céu.
Uma biografia de Kurt Cobain -
Editora Globo).
O trecho acima descreve com perfeição o inicio da queda de um
mito. Quem lê apenas este parágrafo, sem saber quem, como e quando aconteceu, já tem a
ideia de
que algo não ia bem.
Poderíamos pensar que o ocorrido ilustra uma fase difícil, onde a carreira
não deslanchava, ou problemas sérios de relacionamento com a família.
Mas, quando lemos a sequência desse conto de horrores da vida real, vemos que o
personagem principal acabava de conquistar o maior feito de sua vida.
O menino de Seattle que afirmou para amigos: ‘’Vou ser um
superastro da música, me matar e me apagar numa chama de glória’’ (Mais pesado do que o céu. Uma biografia de Kurt Cobain - Editora Globo), acabara de concretizar a primeira fase de sua premonição com
louvor.
Como vemos a seguir, naquela noite não havia
problemas de cunho social ou amorosos. Ao
contrário, Kurt Cobain conquistava o maior êxito
de sua carreira:
‘’Kurt e sua banda haviam
sido o número musical do Saturday Night Live. Sua apresentação no programa se
mostraria um divisor de águas na história do Rock: a primeira vez que uma banda
grunge havia recebido exposição nacional ao vivo na televisão. Foi no mesmo fim
de semana em que o maior lançamento do Nirvana, Nevermeind, batia Michael
Jackson no primeiro lugar das paradas Billboard, tornando-se o álbum mais
vendido do país.
Esses acontecimentos,
tomados em conjunto, certamente marcaram o apogeu de sua curta carreira o tipo
de reconhecimento com que apenas sonha a maioria dos artistas e que o próprio
Kurt havia fantasiado quando adolescente’’ ((Mais pesado do que o céu. Uma biografia de Kurt
Cobain - Editora Globo).
Mas o
maior erro do cantor, não foi às noitadas e o uso abusivo de drogas. Este veio
como reflexo de uma alma que clamava por atenção desde a separação dos pais. Um
menino que, como tantos outros, passou a usar drogas como uma forma de se
mostrar presente; uma forma de cutucar uma família dilacerada.
Quando
alcançou a fama, o garoto esperava que com o sucesso viesse a paz, como se a
fama fosse um alicerce para a luz.
Ledo
engano! Após o sucesso veio à cobrança. Kurt se matava internamente por ser um
mau exemplo para a juventude. O cantor não aceitava jovens usando todo o tipo
de droga durante seus shows.
Como
anestésico, o roqueiro intensificou o uso de heroína. Toda vez que tentava
parar com a droga apareciam vendedores na porta de sua casa. A fama fazia mais
uma vitima.
Sem liberdade
e com o peso do sucesso nas costas, se matar foi a “única” saída. Falaremos em
outros textos sobre a relação entre suicídio e as drogas.
‘’ Kurt Sempre acreditara que o
reconhecimento de seu talento curaria as muitas dores emocionais que marcaram sua
infância: o sucesso havia demonstrado a tolice dessa ideia e aumentara a
vergonha que ele sentia por sua vertiginosa popularidade com a escalada do uso
de drogas’’ (Mais
pesado do que o céu. Uma biografia de Kurt Cobain - Editora Globo).
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